terça-feira, 5 de junho de 2012

Artigo de opinião - Dia do Meio Ambiente (2012)




Ecos da ecologia
Por Christina Maria Pedrazza Sêga (FAC/UnB)

http://www.unb.br/noticias/unbagencia/artigo.php?id=541

Muitos poetas, escritores brasileiros e estrangeiros enalteceram a natureza, o planeta Terra, com sua flora, fauna, rios e oceanos; enfim, a tão aclamada ecologia. A exaltação ecológica, na literatura brasileira, remonta aos primeiros escritores que viveram em solo brasileiro. Muito se falava da nossa vegetação, dos animais aqui encontrados, das riquezas naturais e dos sabores da culinária nativa.

A carta de Pero Vaz de Caminha escrita ao rei de Portugal, Dom Manuel, inaugura a história da crônica jornalística no Brasil, incluindo temas ambientais. Nela, Caminha menciona a descoberta de uma terra fértil, verde, rica e bela chamada Paul Brasil. No entanto, somente a partir do evento Rio-92, também conhecido por Eco-92, que algumas faculdades brasileiras de comunicação, com habilitação em jornalismo, resolveram criar suas pós-graduações em jornalismo ambiental.

Da mesma forma que o jornalismo, a propaganda brasileira não se esqueceu do tema da ecologia. Resgatando um pouco da história, em 1567, Pero de Magalhães Gândavo esboça a primeira propaganda ecológica brasileira em seu “Tratado da Terra do Brasil”, anunciando todas as características referenciais do produto chamado “Brasil”,  por meio da linguagem informativa e descritiva. Até então, não se falava em “publicidade”, apenas “propaganda”, por não haver naquela época os meios de comunicação de massa, responsáveis pela divulgação de um produto com fins lucrativos. De certa forma, Gândavo apenas sustentou o que Caminha constatou e anunciou primeiro. Será que teria nascido o  primeiro plágio da propaganda brasileira?

O consagrado poeta brasileiro, Antônio Gonçalves Dias, pode ser considerado “criador da literatura ecológica”. Autor de vários poemas nacionalistas, é também precursor da poesia indianista e ao mesmo tempo romântica da nossa literatura. Seu mais conhecido poema “Canção do Exílio”,  é o marco da poesia ecológica brasileira. O primeiro verso de tal poema, “minha terra tem palmeiras”, está firmemente gravado na memória de estudante, que um dia fomos, de tal forma que nos serve de referência nacionalista, ambiental e pode ser reutilizada não só como título de um texto mas como slogan de partido político, de veleidades ideológicas e até mesmo de anúncio publicitário de um “resort” ou de um pacote turístico, ainda mais agora que  nosso país está muito bem-visto  lá fora.

Vinte anos depois do marcante encontro mundial sobre meio-ambiente, realizado no Rio de Janeiro, em 1992, conhecido como Rio-92 ou Eco-92, o próximo evento Rio+20 vai enfatizar as propostas de sustentabilidade para o planeta como economia e reutilização da água, energia, preservação ambiental, despoluição e preocupação com ser humano de forma global. Os assuntos principais que serão abordados no Rio+20 tratam da preocupação em erigir uma economia “verde”, retirando as pessoas do mundo inteiro do mais baixo índice de pobreza, para dar-lhes o mínimo de civilidade ou cidadania e dignidade humana.

Parece um tanto displicente que a maior preocupação com a sustentabilidade no Brasil, de alguns estabelecimentos comerciais, está em abolir as sacolas plásticas nos supermercados diante de tantas outras medidas mais urgentes. A maior metrópole brasileira já o fez. Interessante ressaltar, que no ano 2000, Lisboa e outras cidades europeias já aplicavam essa regra em pequenos estabelecimentos comerciais, como mercearias, por exemplo. Doze anos depois, essa atitude continua firme na preocupação lusitana com a sustentabilidade ambiental, mesmo sofrendo com as adversidades da crise econômica mundial.

Destaque no cenário internacional, o Brasil precisa se preocupar com outras questões mais emergenciais como investir em infraestrutura, ampliar o acesso à educação e saúde, aumentar a segurança pública e evitar a corrupção e o combate ostensivo às drogas como crack e outras que estão entrando no país de forma ilícita, além das que entram de forma lícita por não estarem ainda catalogadas pela Anvisa.

Se já não acontece o mesmo com a atual poesia brasileira como nos tempos de Gonçalves Dias, com a publicidade atual isso faz toda a diferença quando se pensa em conquistar novos consumidores e consolidar marcas. Produtos e marcas distintas de produtos variados recorrem à produção e venda consciente, ao mesmo tempo em que procuram educar e persuadir seus consumidores a se preocuparem, não só com o que consomem, mas como os consomem e como os descartam para o lixo. Reciclagem é a palavra-chave. Sabemos pela nossa experiência de educadores e pais que educar não é tarefa fácil. O papel da mídia em restaurar a cidadania tão proclamada pela civilização grega, marco de civilidade no mundo ocidental, está surtindo efeito, mesmo que aos poucos, fazendo com que os cidadãos, de uma forma geral, tenham mais responsabilidade social pelo nosso planeta que recebe um enorme peso por se chamar Terra.

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