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Fonte:Vitae Civilis
Entre as personalidades que subscrevem a carta
estão o cientista americano Thomas Lovejoy, que introduziu o conceito de
“diversidade biológica” no mundo acadêmico, os ex-ministros brasileiros
Marina Silva e José Goldemberg, o ambientalista Fabien Cousteau, o cacique
Raoni Metuktire e a ativista canadense Severn Suzuki, conhecida pelo discurso
na conferência Rio-92 quando tinha apenas 12 anos.
Para os signatários, a declaração atual é fraca,
está “muito aquém da importância e da urgência dos temas abordados” e “não
assegura resultados concretos”.
Veja o que disseram alguns representantes do
grupo, em evento de divulgação no Riocentro, e, logo abaixo, a carta na
íntegra com a lista atualizada de assinaturas até a noite de quinta-feira.
Kumi Naidoo, diretor-executivo do Greenpeace
Internacional: “Infelizmente a Rio+20 está se tornando a ‘Riomenos20’.
Claramente este documento carece de ambição, de visão e é uma demonstração da
inabilidade dos negociadores e governos de irem além das agendas nacionais e
de seus próprios interesses”.
Sharan Burrow, secretária-geral da International
Trade Union Confederation: “A falta de coragem dos chefes deEstado que
chegaram aqui e concordaram com um texto fechado sobre o qual não discutiram
uma linha é um choque para nós. Vir até aqui para não fazer nada é um enorme
desperdício. Palavras não são suficientes. Um processo sem metas, datas e
inclusão da sociedade é inadmissível”.
Severn Suzuki, ativista canadense: “Vinte anos
atrás eu estive aqui neste mesmo lugar. Estive aqui porque acreditei que
estaria falando com lideres que podiam mudar o mundo. Passei os últimos 20
anos trabalhando de boa fé. E agora volto ao Riocentro. Todo mundo sabe: nós
falhamos no esforço de conseguir uma transformação sustentável. Mas podemos
reconhecer que é um momento histórico. O que significa quando lideres
mundiais se juntam e não podem trabalhar para o bem da humanidade? Membros da
imprensa e da sociedade aqui presente: vamos devolver ao resto do mundo uma
mensagem de que nós temos uma falha em nosso sistema de governança mundial.
Não sou mais jovem, mas sou mãe como muitas de vocês e como vocês eu farei
qualquer coisa para que meus filhos tenham o futuro que eles querem”.
Camilla Toulmin, economista e diretora do IIED:
“É alarmante encontrarmos um documento sem metas, sem ação, sem datas.
Nenhuma menção a um planeta que tem limites e que temos de encontrar maneiras
de compartilhar esses recursos. Fico imaginando de que planeta esses
negociadores vem. Eles parecem estar em outra realidade. Temos um grande
desafio pela frente com cidades, água, energia. Mas todas essas discussões
foram postergadas para outro momento”.
Luís Flores, Consumers International – “Este
documento foi negociado por muito tempo, inclusive com reuniões de emergência
em Nova York. E finalmente no dia 15 de junho só se tinha acordado um terço
do texto. Passamos um ano para negociar um terço e dois dias para negociar o
resto”.
Pedro Telles, do Vitae Civilis: “A juventude que está aqui continuará unida e agindo. Não vamos desistir. Não vamos perder a esperança. Vamos continuar juntos e esperamos que esses líderes e negociadores se juntem a nós por mudanças concretas”.
Carta 'A Rio+20 que não queremos':
O futuro que queremos tem compromisso e ação - e
não só promessas. Tem a urgência necessária para reverter as crises social,
ambiental e econômica e não postergação. Tem cooperação e sintonia com a
sociedade e seus anseios - e não apenas as cômodas posições de governos.
Nada disso se encontra nos 283 parágrafos do
documento oficial que deverá ser o legado desta conferência. O documento
intitulado O Futuro que Queremos é fraco e está muito aquém do espírito e dos
avanços conquistados nestes últimos 20 anos, desde a Rio-92. Está muito
aquém, ainda, da importância e da urgência dos temas abordados, pois
simplesmente lançar uma frágil e genérica agenda de futuras negociações não
assegura resultados concretos.
A Rio+20 passará para a história como uma
conferência da ONU que ofereceu à sociedade mundial um texto marcado por
graves omissões que comprometem a preservação e a capacidade de recuperação
socioambiental do planeta, bem como a garantia, às atuais e futuras gerações,
de direitos humanos adquiridos.
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